C.96.5.7 PAIXÃO
C.96.5.7.1 Agonia no Getsêmani
§612 O cálice da Nova Aliança, que Jesus antecipou na Ceia, oferecendo-se
a si mesmo, aceita-o em seguida das mãos do Pai em sua agonia no Getsêmani,
tornando-se "obediente até a morte" (Fl 2,8). Jesus ora: "Meu
Pai, se for possível, que passe de mim este cálice..." (Mt 26,39). Exprime
assim o horror que a morte representa para sua natureza humana. Com efeito, a
natureza humana de Jesus, como a nossa, está destinada à Vida Eterna; além
disso, diversamente da nossa, ela é totalmente isenta de pecado, que causa a
morte"; mas ela é sobretudo assumida pela pessoa divina do "Príncipe
da Vida", do "vivente". Ao aceitar em sua vontade humana que a
vontade do Pai seja feita, aceita sua morte como redentora para "carregar
em seu próprio corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Pd 2,24).
C.96.5.7.2 Crucifixão e sacrifício da paixão
§617 "Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem
meruit - Por sua santíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a
justificação", ensina o Concílio de Trento, sublinhando o caráter único do
sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna". E a Igreja
venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes única - Salve, ó Cruz, única esperança".
§627 A Morte de Cristo foi uma Morte
verdadeira enquanto pôs fim à sua existência humana terrestre. Mas, devido à
união que a pessoa do Filho manteve com o seu corpo, não estamos diante de um
cadáver como os outros, porque "não era possível que a morte o retivesse
em seu poder" (At 2,24) e porque "a virtude divina preservou o corpo
de Cristo da corrupção". Sobre Cristo pode-se dizer ao mesmo tempo:
"Ele foi eliminado da terra dos vivos" (Is 53,8) e "Minha carne
repousará na esperança, porque não abandonarás minha alma no Hades, nem
permitirás que teu Santo veja a corrupção" (At 2,26-27). A Ressurreição de
Jesus "no terceiro dia" (1 Cor 15,4; Lc 24,46) foi a prova disso,
pois se pensava que a corrupção se manifestaria a partir do quarto dia.
C.96.5.7.3 Efeitos da paixão de Cristo
§1708 Por sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado. Ele nos
mereceu a vida nova no Espírito Santo. Sua graça restaura o que o pecado
deteriorou em nós.
§1992 A justificação nos foi merecida pela
paixão de Cristo, que se ofereceu na cruz como hóstia viva, santa e agradável a
Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de toda
a humanidade. A justificação é concedida pelo Batismo, sacramento da fé.
Toma-nos conformes à justiça de Deus, que nos faz interiormente justos pelo
poder de sua misericórdia. Tem como alvo a glória de Deus e de Cristo, e o dom
da vida eterna:
Agora, porém, independentemente da lei, se
manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça
de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor de todos os que crêem pois
não há diferença, sendo que todos pecaram e todos estão privados da glória de
Deus e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção
realizada em Cristo Jesus. Deus o expôs como instrumento de propiciação, por
seu próprio sangue, mediante a fé. Ele queria assim manifestar sua justiça,
pelo fato de ter deixado sem punição os pecados de outrora, no tempo da
paciência de Deus; ele queria manifestar sua justiça no tempo presente, para
mostrar-se justo e para justificar aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,21-26).
§2020 A justificação nos foi merecida pela
Paixão de Cristo e nos é concedida por meio do Batismo. Faz-nos conformes à
justiça de Deus, que nos torna justos. Tem como meta a glória de Deus e de
Cristo e o dom da Vida Eterna. É a obra mais excelente da misericórdia de Deus.
C.96.5.7.4 Hora
da paixão
§730 Finalmente chega a Hora de Jesus. Jesus
entrega seu espírito nas mãos do Pai momento em que, por sua Morte, e, vencedor
da morte, de maneira que, "ressuscitado dos mortos pela Glória do
Pai" (Rm 6,4), dá imediatamente o Espírito Santo, "soprando"
sobre seus discípulos. A partir dessa Hora, a missão de Cristo e do Espírito
passa a ser a missão da Igreja: "Como o Pai me enviou, também eu vos
envio" (Jo 20,21)
C.96.5.7.5 Necessidade da
paixão de Cristo
§607 Este desejo de desposar o desígnio de
amor redentor de seu Pai anima toda a vida de Jesus pois sua Paixão redentora é
a razão de ser de sua Encarnação: "Pai, salva-me desta hora. Mas foi precisamente
para esta hora que eu vim" (Jo 12,27). "Deixarei eu de beber o cálice
que o Pai me deu?" (Jo 18,11). E ainda na cruz, antes que tudo fosse
"consumado" (Jo 19,30), ele disse: "Tenho sede" (Jo 19,28).
C.96.5.7.6 Oblação da
paixão
§621 Jesus ofereceu-se livremente por nossa
salvação. Este, dom, ele o significa e o realiza por antecipação durante a
Última Ceia: "Isto é meu corpo, que será dado por vós" (Lc 22,19).
C.96.5.7.7 Processo
§595 Entre as autoridades religiosas de
Jerusalém não houve somente o fariseu Nicodemos ou o ilustre José de Arimatéia
como discípulos secretos de Jesus, mas durante muito tempo foram produzidas
dissensões acerca de Jesus, a ponto de, às vésperas de sua Paixão São João
poder dizer deles que "um bom número deles creu nele", ainda que de
forma bem imperfeita (Jo 12,42). Isso não tem nada de surpreendente se levarmos
em conta que no dia seguinte a Pentecostes "uma multidão de sacerdotes
obedecia à fé" (At 6,7) e que "alguns do partido dos fariseus haviam
abraçado a fé" (At 15,5), a ponto de São Tiago poder dizer a São Paulo que
"zelosos partidários da Lei, milhares de judeus abraçaram a fé" (At
21,20).
§596 As autoridades religiosas de Jerusalém
não foram unânimes na conduta a adotar em relação a Jesus. Os fariseus ameaçaram
de excomunhão os que o seguissem. Aos que temiam que "todos crerão em
Jesus e os romanos virão e destruirão nosso Lugar Santo e a nação" (Jo
11,48), o Sumo Sacerdote Caifás propôs, profetizando: "Não compreendeis
que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação
toda?" (Jo 11,50). O Sinédrio, depois de declarar Jesus "passível de
morte" na qualidade de blasfemador, mas, tendo perdido o direito de pô-lo
à morte, entrega Jesus aos romanos, acusando-o de revolta política, o que colocará
Jesus no mesmo pé que Barbarás, acusado de "sedição" (Lc 23,19). São
também ameaças políticas o que os chefes dos sacerdotes fazem a Pilatos para
que condene Jesus à morte.
§597 Levando em conta a complexidade histórica
do processo de Jesus manifestada nos relatos evangélicos, e qualquer que possa
ser o pecado pessoal dos atores do processo (Judas, o Sinédrio, Pilatos),
conhecido só de Deus, não se pode atribuirá responsabilidade ao conjunto dos
judeus de Jerusalém, a despeito dos gritos de uma multidão manipulada e das
censuras globais contidas nos apelos à conversão depois de Pentecostes. O
próprio Jesus, ao perdoar na cruz, e Pedro, depois dele, apelaram para a
"ignorância" dos judeus de Jerusalém e até dos chefes deles. Menos
ainda pode-se, a partir do grito do povo: "Seu sangue caia sobre nós e
sobre nossos filhos" (Mt 27,25), que significa uma fórmula de ratificação,
estender a responsabilidade aos outros judeus no espaço e no tempo.
Por isso a Igreja declarou muito oportunamente
no Concílio Vaticano II: "Aquilo que se perpetrou em sua Paixão não pode
indistintamente ser imputado a todos os judeus que viviam então, nem aos de
hoje... Os judeus não devem ser apresentados nem como condenados por Deus nem
como amaldiçoados, como se isto decorresse das Sagradas Escrituras".
§598 No magistério de sua fé e no testemunho
de seus santos a Igreja nunca esqueceu que "foram os pecadores como tais
os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o
Divino Redentor". Levando em conta que nossos pecados atingem o próprio
Cristo, a Igreja não hesita em imputar aos cristãos a responsabilidade mais
grave no suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva freqüência estes
debitaram quase exclusivamente aos judeus.
Devemos considerar como culpados desta falta
horrível os que continuam a reincidir em pecados. Já que são os nossos crimes
que arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da cruz, com certeza os
que mergulham nas desordens e no mal "de sua parte crucificam de novo o
Filho de Deus e o expõem as injúrias" (Hb 6,6). E é imperioso reconhecer
que nosso próprio crime, neste caso é maior do que o dos judeus. Pois estes,
como testemunha o Apóstolo, "se tivessem conhecido o Rei da glória, nunca
o teriam crucificado" (1Cor 2,8). Nós, porém, fazemos profissão de
conhecê-lo. E, quando o negamos por nossos atos, de certo modo levantamos
contra Ele nossas mãos homicidas. Os demônios, então, não foram eles que o
crucificaram; és tu que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo,
deleitando-te nos vícios e. nos pecados.
C.96.5.7.8 Significação
da paixão
§713 Os traços do Messias são revelados
sobretudo nos cantos do Servo. Esses cantos anunciam o sentido da Paixão de
Jesus e indicam, assim, a maneira como ele derramará o Espírito Santo para
vivificar a multidão: não partindo de fora, mas desposando nossa "condição
de escravo" (Fl 2,7). Tomando sobre si nossa morte, ele pode comunicar-nos
seu próprio Espírito de vida.
C.96.5.7.9 União com a
paixão de Cristo
§1521 A união com a paixão de Cristo. Pela
graça deste sacramento o enfermo recebe a força e o dom de unir-se mais
intimamente à paixão de Cristo: de certa forma ele é consagrado para produzir
fruto pela configuração à paixão redentora do Salvador. O sofrimento, seqüela
do pecado original, recebe um sentido novo: torna-se participação na obra
salvífica de Jesus.
§1522 Uma graça eclesial. Os enfermos que
recebem este sacramento, "associando-se livremente à paixão e à morte de
Cristo", "contribuem para o bem do povo de Deus". Ao celebrar
este sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos, intercede pelo bem do
enfermo. E o enfermo, por sua vez, pela graça deste sacramento, contribui para
a santificação da Igreja e para o bem de todos os homens pelos quais a Igreja
sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.
§1532 1532 A graça especial do sacramento da
Unção dos Enfermos tem como efeitos:
- a união do doente com a paixão de Cristo, para seu bem e o bem de toda a Igreja;
- reconforto, a paz e a coragem para suportar cristãmente os sofrimentos da doença ou da velhice;
- perdão dos pecados, se o doente não pode obtê-lo pelo sacramento da Penitência;
- restabelecimento da saúde, se isso convier à salvação espiritual;
- a preparação para a passagem à vida eterna.
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