Em tempos passados não muito distantes,  Papai Noel esteve sempre relacionado ao Menino Jesus. Nos dias atuais,  infelizmente, andam separados. Por toda parte onde o velhinho aparece, o  Aniversariante da festa não é lembrado, mas posto fora da cena.    
Sacoleiro errante, demonstrando  preferências por crianças ricas, é a maneira como geralmente se  apresenta. Perdeu-se no tempo sua figura original de mensageiro do  Menino Jesus. Conformou-se passar por “Velho Propaganda” do consumismo,  seu novo emprego. Nada mais do que um assalariado sazonal.
Colado em paredes e portas de lojas  comerciais, pendurado em árvores de Natal psicodélicas, caminhando sem  destino pelas ruas da cidade, o que pode significar sua imagem? Para  alguns, talvez, lembre aquela felicidade nostálgica dos anos que não  voltam mais. Para outros, pode representar momentos de fuga de uma vida  sofrida e mergulhada em lutas sem fim. Para outros, ainda, será uma  figura lendária que aparece todo fim de ano trazendo ilusões.
Pelas ondas do rádio, exibe uma voz  atraente e acolhedora e, nas telas da TV, abraça e beija crianças. Viaja  na internet com o nome de Santa Claus, a trazer presentes virtuais...  Mas, de fato, esse Papai Noel moderno só pensa numa coisa e só trabalha  por uma causa: vender, vender e sempre mais vender. Vende e dá muitos  presentes. Quando vende, explora quem tem e quem não tem. Quando dá  presentes para quem tem, só presentes novos e caros. Para quem não tem,  presentes usados. Alheio ao sofrimento dos outros, nunca é visto  chorando, mas sempre sorridente.
Na calada da noite, durante o sono das  crianças, entra de mansinho nas moradias, ora descendo por chaminés, ora  pulando pelas sacadas das janelas, sempre fantasiosamente esperado.
É um trabalho menos árduo do que  caminhar pelas favelas. Não é hábito seu ir aonde as crianças não  colocam o par de sapatinhos ao pé da cama, lá onde andam descalças e  dormem no chão.
Tenho saudades do Papai Noel da “aurora  da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem  mais...”. Aquele velhinho corado, barbas brancas, faces iluminadas de  carinho, sorriso aberto e braços ainda mais abertos, aparentemente  parecido com esse Papai Noel de hoje. Na realidade, um bem diferente do  outro.
Vinha ele, o da minha infância querida,  carregado de presentes para o Menino Jesus do Presépio lá de casa  distribuí-los aos grandes e pequenos e à família da empregada que  passava esse dia da fraternidade conosco. Sim, era o Menino Jesus quem  repartia os presentes. Costume que ainda perdura em algumas famílias,  Papai Noel traz presentes e os entrega em nome do recém-nascido na  manjedoura de Belém.
Revivia-se com tão expressivo gesto o  pleno sentido da profecia de Isaías: “Um menino nasceu para nós” (9,5).  Ele é o presente de Deus à humanidade, motivo maior de nossa  confraternização, manifestada na troca de presentes nessa Noite Feliz e  de Paz.
Lenda ou história, Papai Noel da minha  infância querida lembrava também São Nicolau, lá do século VI, que, nas  noites de Natal, percorria as moradas dos pobres, repartindo com eles as  doações dos fiéis em homenagem ao Pobrezinho que nasceu em Belém.
Haverá quem nasça mais pobremente?  Escreve o Apóstolo Paulo aos Filipenses, que o Filho de Deus não se  apegou de modo ciumento à sua condição divina, mas, “esvaziou-se a si  mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fl 2,  6-7). Sua presença no meio de nós, nossa maior riqueza, foi a graça que  recebemos de nos tornarmos filhos do mesmo Pai que fez de todos nós  irmãos do seu Filho (Jo 1,16).
Nasceu pobremente – no sentido real da  expressão – ao relento, “do lado de fora da casa, pois dentro não havia  lugar para ele”. Sua Mãe “envolveu-o em faixas e reclinou-o na  manjedoura de animais”, seu primeiro berço. Na predição de Isaías, é  chamado de “Emanuel” (Deus-conosco) e, na voz do Anjo aos pastores de  Belém, proclamado o Salvador. Só conheceu dois tronos: a Manjedoura e a  Cruz. Ao perpetuar-nos sua memória na Eucaristia, transformou-os na mesa  da Ceia.
Na sociedade consumista, o símbolo mais  evocativo do Natal é o Papai Noel sequestrado pelas forças do poder  econômico que urge delas libertá-lo. Desejamos que volte a ser  mensageiro da Boa-Nova anunciada a uma Virgem de Nazaré chamada Maria:  “Eis que darás à luz um filho e o chamarás Jesus”, bem como anunciada  aos pastores que guardavam o rebanho nos campos de Belém: “Nasceu-nos  hoje um Salvador”. Festejar o Natal ignorando o Aniversariante da festa,  eis a mais triste alienação.
Papai Noel dos tempos da internet está  com outra identidade. Não é mais aquele. Não sabe mais que, um dia, sua  missão foi parecida, também, com a de João Batista, o precursor. Ele  “não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1,27). Aos  contemporâneos, alertou com severa advertência totalmente válida após  dois mil anos: “No meio de vós está alguém que não conheceis” (Jo 1,26).
A alegria do Natal seria mais completa  se Papai Noel testemunhasse como João Batista, a respeito do Menino  Jesus, o Aniversariante: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo  3,30).
 
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